quarta-feira, 16 de abril de 2008

Dor e linguagem




Nas últimas duas décadas, diversas publicações científicas têm deixado evidente que a maioria dos pesquisadores acredita no fato de que animais sentem dor e sofrimento. Ainda assim, é comum encontrar argumentos de que esse sofrimento deve ser reduzido devido à inabilidade animal de experimentar sofrimento da mesma forma que o homem (tal como martírio por antecipação a um evento ou a lembrança de um sofrimento como algo vívido).

A contestação da existência do sofrimento animal (e consciência animal de um modo geral), surge primariamente do fato de que muitas pessoas consideram que animais não possuem uma "linguagem" (o que é um engano tremendo), levando cientistas a argumentar que resulta impossível saber quando um animal estaria sofrendo. Esta situação de dúvida quanto a capacidade animal de aprender/desenvolver uma linguagem tende a mudar à medida que um número cada vez maior de chimpanzés e outros animais é exposto à linguagem de sinais (embora céticos questionem se estes animais entendem de fato o que estejam fazendo). Curioso é que entendendo ou não, eles se fazem entender.

O argumento de que a linguagem é necessaria para expressar e comprender a dor alheia é falho. Fosse esse o caso, seria então frequentemente impossível saber quando alguns gêneros de seres humanos sentem dor (como é o caso de recém-nascidos, uma vez que seu linguajar é pobre e limitado). Tudo que podemos fazer de fato é observar o comportamento resultante de dor em humanos, e fazer estimativas com base nesses sinais. Como Ludwig Wittgenstein arguiu certa vez, se alguém está chorando, apertando uma parte de seu corpo, resmungando chorosamente ou manifestando incapacidade de agir físicamente em algum sentido, especialmente quando estes sinais são resultado de um evento que sugere causar dor, isto é em grande medida o que entendemos por sentir dor. Não existe razão para supor que o comportamento de animais diante desses eventos causadores de dor seja diferente. Resultaria paradoxal defender a inexistência de dor em animais em função dessa observação e defender o uso do método científico como o conhecemos, o qual essencialmente baseia-se na observação de sinais já conhecidos e extrapolação de suas características a situações similares. É assim que fazemos ciência: deduzimos por similaridade.

Mais uma vez, o homem apoia-se em premissas falhas para sustentar comportamentos imorais e convenientes. É dessa forma que a sociedade sustenta e engana-se quanto ao tratamento cruel que aplica a toda sorte de animais.

(Adaptado da artigo Wikipedia)


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