sexta-feira, 4 de abril de 2008
Dados e o acaso
Animais somente são sociais se desse convívio resultam mais vantagens que o oposto, a vida solitária. Essa é a essência da vida em grupo, seja o mesmo numeroso ou não.
Alguém ajuda você na caça, você o ajuda no cuidado da prole. Alguém é de importância na defesa da tribo, outrém reúne características genéticas pertinentes.
"There´s no free lunch" é o mote dessa conduta.
(Se alguém convida você para um almoço pago, ou você irá pagar por ele ou você já pagou o almoço sem perceber).
Dessa forma, grupos sociais são naturalmente impelidos a interagir entre si (condutas de comportamento, cessões, direitos, estratégias de cruzamento).
Dentre as várias consequências da vida em grupo, a mais marcante é a Seleção Sexual (conjunto de critérios de escolha de parceiros sexuais para produção de descendentes).
Organismos vivos sentem-se propensos a propagar seus genes (mesmo não sabendo quais sejam eles). É a essência da sobrevivência da espécie : O gene egoísta.
Organismos portanto, buscam selecionar do grupo o(s) parceiro(s) (macho ou fêmea) que tenha(m) as características mais interessantes para a próxima geração.
Um planejamento de curto prazo.
Dessa prole, os progenitores esperam (sic) que surjam vencedores/sobreviventes e que o sistema se propague. Que sobrevivam propagadores de informação biológica.
Percebam entretanto a relação entre Seleção Sexual e o aspecto temporal "a curto prazo".
Nenhum organismo pode ter certeza da constância ambiental.
Ambientes são por definição sistemas dinâmicos.
Assim como os progenitores esperam que as condições naturais não oscilem muito em um curto espaço de tempo, os mesmos esperam também que a prole tenha grande sucesso em sobreviver num futuro próximo.
Somente assim haverá "imortalidade".
Se aspectos ambientais e sociais mudam expressivamente ao longo do tempo, o cultivo da esperança perde todo sentido.
Afinal,o perdedor de ontem pode (ou poderia) ser o vencedor de amanhã.
Concluímos então que escolhas de parceiros baseiam-se em uma loteria, uma expectativa.
Não se sabe em momento algum se haverá sucesso na fecundação resultado do coito, sobrevivência futura da prole ou se a mesma estará preparada para as condições naturais daépoca quando estes sejam adultos ou férteis.
Podemos alegar que os progenitores têm um certo conhecimento do que são eles próprios (em termos de comportamento, características físicas, etc) e dessa maneira podem "prever" algo a respeito da potencial futura prole.
Mas não podem.
É de muito tempo que sabemos que poucas características biológicas são determinadas monogenicamente. Sequer sabemos quais.
Intrincadas redes multifatoriais moleculares governam (modulando positivamente ou negativamente) uma característica qualquer em seres vivos, as quais são amplamente dependentes do meio circundante e do poder de influência destes.
Não bastasse isso, sabemos muito pouco a respeito da carga genética que nosso parceiro carrega, e portanto a contribuição que este transmitirá à prole. São muitos cromossomos, milhares de genes, recombinações genéticas, mutações, N fatores ambientais atuantes e predisposições diversas a estes.
Se a realidade fosse determinística, categórica e estanque, diriamos que pais fortes teriam filhos fortes, pais rápidos teriam filhos rápidos, ou pais inteligentes teriam filhos inteligentes. A estatística de certa forma suporta esse raciocínio.
Mas não é assim. Encontramos exceções para todas as combinações possíveis.
Toda regra tem sua exceção. Inclusive esta.
A natureza é uma coleção de fenômenos contínuos, e não-discretos.
Somos nada mais que uma aposta emotiva, à mercê do acaso, da expectativa, da esperança.
Vivemos em um contínuo jogo de dados. Jogado por um deus inexistente.
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