quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pálido ponto azul


Estava eu deitado hoje vendo alguns filmes sobre cosmologia e astrofísica (assunto que muito me interessa) e assistindo-os, algumas lágrimas me vieram aos olhos. Não lágrimas de tristeza, mas sim, de reflexão.

Somos nada.
Somos absolutamente nada.
E achamos e nos comportamos como se fossemos a maior representação de magnificência da natureza.

Nesse instante de reflexão, me lembrei do livro de Carl Sagan (1994), "A blue pale dot" (Um pálido ponto azul) e de um texto do autor referente a uma foto obtida pela Voyager 1 que tinha como missão fotografar os planetas de nosso sistema solar.

A foto em questão é uma foto do planeta Terra, tirada pela Voyager 1 a meros 6,4 bilhões de quilômetros de distância (foto obtida com o uso de filtros para o verde, azul e violeta).

O texto a seguir (e sua tradução livre) deveria tocar cada um de nós no mais profundo recanto de nossa consciência induzindo-nos a refletir o que somos, como o somos e porque continuamos comportando-nos dessa maneira.

O texto a seguir expressa em sua maior plenitude o título que denomina este blog: o absurdo humano.

http://www.youtube.com/watch?v=p86BPM1GV8M

"Look again at that dot. That's here. That's home. That's us. On it everyone you love, everyone you know, everyone you ever heard of, every human being who ever was, lived out their lives. The aggregate of our joy and suffering, thousands of confident religions, ideologies, and economic doctrines, every hunter and forager, every hero and coward, every creator and destroyer of civilization, every king and peasant, every young couple in love, every mother and father, hopeful child, inventor and explorer, every teacher of morals, every corrupt politician, every "superstar," every "supreme leader", every saint and sinner in the history of our species lived there-on a mote of dust suspended in a sunbeam.

The Earth is a very small stage in a vast cosmic arena. Think of the rivers of blood spilled by all those generals and emperors so that, in glory and triumph, they could become the momentary masters of a fraction of a dot. Think of the endless cruelties visited by the inhabitants of one corner of this pixel on the scarcely distinguishable inhabitants of some other corner, how frequent their misunderstandings, how eager they are to kill one another, how fervent their hatreds.

Our posturings, our imagined self-importance, the delusion that we have some privileged position in the Universe, are challenged by this point of pale light. Our planet is a lonely speck in the great enveloping cosmic dark. In our obscurity, in all this vastness, there is no hint that help will come from elsewhere to save us from ourselves.

The Earth is the only world known so far to harbor life. There is nowhere else, at least in the near future, to which our species could migrate. Visit, yes. Settle, not yet. Like it or not, for the moment the Earth is where we make our stand.

It has been said that astronomy is a humbling and character-building experience. There is perhaps no better demonstration of the folly of human conceits than this distant image of our tiny world. To me, it underscores our responsibility to deal more kindly with one another, and to preserve and cherish the pale blue dot, the only home we've ever known."

Carl Sagan (1934 - 1996)

Tradução livre :

Olhe novamente para esse ponto. Esse ponto é aqui. Esse ponto é nosso lar. Esse ponto somos nós. Nele, cada um que você ama, cada um que você conhece, cada um de quem você ouviu falar, cada ser humano que algum dia existiu... viveu seus dias. O conjunto de nossas alegrias e tristezas, milhares de religiões apaixonadas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e forrageador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de uma civilização, cada rei e campones, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, cada criança esperançosa, inventor e explorador, cada professor de moral, cada político corrupto, cada "astro", cada "líder supremo", cada santo e pecador da história de nossa espécie, viveu nele - em um insignificante ponto de poeira suspenso sob um raio solar.

A Terra é um episódio muito pequeno na vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue criados por todos aqueles generais e imperadores os quais, pela glória e triunfo, tornariam-se mestres momentâneos de uma fração desse ponto. Pense nas crueldades intermináveis sofridas pelos habitantes de um canto desse pixel aplicadas pelos quase indistiguíveis habitantes de um outro canto... quão frequentes foram os mal-entendidos, quão ávidos estavam eles para matar uns aos outros, quão fervorosas foram suas iras.

Nossa conduta, nossa ilusória auto-importância, o engano que nós alimentamos de ter alguma posição privilegiada no Universo, é desafiada pela observação desse pálido ponto luminoso. Nosso planeta é uma partícula solitária envolvida pela imensa escuridão cósmica. Em nossa ignorância, em toda essa vastidão, não existe qualquer pista de que algum auxílio virá de algum lugar para salvar-nos de nós mesmos.

A Terra é o único mundo conhecido até agora que abriga a Vida. Não existe qualquer outro lugar, pelo menos a curto prazo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Instalar-se, não ainda. Goste você ou não, no momento a Terra é onde nós estamos estabelecidos.

Já foi dito que a astronomia é uma experiência dignificadora de carácter e de humildade. Talvez não exista melhor demonstração da insanidade de nossos conceitos humanos do que esta distante imagem de nosso pequeno mundo. Para mim, ela determina nossa responsabilidade em tratar com mais gentileza um ao outro, e preservar e tratar com carinho este pálido ponto azul... o único lar que nós conhecemos.

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