sexta-feira, 13 de junho de 2008
Holocausto à sua mesa
quinta-feira, 12 de junho de 2008
I am an animal - Documentário HBO
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Dignidade com as cobaias
Acho tão patético quando o H.sapiens utiliza-se de uma lógica parcial e hipócrita para condenar uma dada atividade, quando a pratica descaradamente em outras situações.
O uso da palavra dignidade é seguramente usada sem real obediência ao seu significado mais básico.
Associação denuncia uso de cobaias humanas em pesquisas de malária (03/06/2008 - 15h41)
União e governo do Acre foram intimados a prestar esclarecimentos à Justiça. Segundo instituição, uso de agentes como 'iscas' viola os direitos humanos.
O presidente da Abraspec, Jardson Bezerra, disse ao G1 que pelo menos nove agentes entomológicos moradores da região do Vale do Juruá denunciaram que foram obrigados a levar picadas e oferecer amostras de sangue, alem de ficar com o corpo nu, exposto aos mosquitos, com o objetivo de capturar insetos. Em troca, eles receberiam salário de aproximadamente R$ 850. A prática seria comum no estado desde o ano 2000.
"Essa prática não pode continuar, porque viola os direitos humanos. Há uma resolução do Ministério da Saúde que determina que em todas as pesquisas que envolvem seres humanos deve ser dado tratamento digno aos participantes. O Acre viola essas regras. Há má administração de dinheiro público. A verba não pode ser usada para nada que prejudica a saúde pública e essas ações podem disseminar a doença", diz Bezerra.
De acordo com Bezerra, lâminas com amostras de sangue eram lavadas e reutilizadas, o que expõe os agentes ao risco de contraírem doenças como hepatite e Aids. "Deixou de ser um risco para os agentes e passou a ser um risco para a saúde pública, já que eles podem transmitir doenças para outras pessoas, inclusive para suas famílias", diz
Procurada pela reportagem do G1, a Advocacia-Geral da União informou que ainda não foi notificada. Representantes do estado do Acre também informaram que o estado ainda não recebeu a intimação.
- Falta de provas
O procurador da República no Acre, Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, designado para o inquérito que investiga o caso, afirmou que está reunindo provas. Por enquanto, ele recebeu uma cópia da petição inicial da ação civil pública em que é pedida a adoção de medidas e punição para os responsáveis.
"O Ministério Público só poderá integrar a ação quando receber provas. Ainda não tenho como saber se isso poderá ser provado ou não. Há pessoas que dizem possuir fotos e documentos que comprovem a prática, mas ainda não recebemos", disse Cordeiro Lopes.
O secretário de Estado de Saúde, Osvaldo de Sousa Leal Junior, divulgou nota oficial sobre as denúncias em que esclarece que o estado "não realiza pesquisas com cobaias humanas e condena o uso desta prática."
O Acre faria a captura do mosquito no momento da picada por meio de "atração humana", quando meias grossas são utilizadas para proteger a pele e o inseto é capturado antes da picada.
Segundo a secretaria, os técnicos de entomologia são treinados para capturar os insetos com aulas teóricas e práticas. "Desta forma, a técnica de atração humana está restrita aos profissionais devidamente conscientizados, capacitados, treinados para esse fim", diz a nota.
Segundo a secretaria, "a captura de mosquitos transmissores é um procedimento epidemiológico e entomológico de rotina, mundialmente adotado para o controle de vetores". O método seria aprovado pela Organização Mundial de Saúde.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Vitamina B12 : o mito
Muito bem... Prossigamos.
Como o mercado alega ser o consumo de carne absolutamente necessário ao homem (pelo fato desta ser a "única" fonte de obtenção de vitamina B12), o leigo tende a descartar prontamente a conduta vegetariana/vegana já que entende que vegetais não fornecem vitamina B12.
Sendo assim, diante desse engodo, são necessários alguns fatos e esclarecimentos :
(Peço aqui ao leitor que tolere por alguns poucos segundos o eventual jargão bioquímico...)
A vitamina B12 é uma vitamina importante na formação do sangue, e necessária ao bom funcionamento do cérebro e Sistema Nervoso propriamente dito.
Detalhando mais: a vitamina B12 mostra-se envolvida na síntese e regulação do DNA além de participar em processos de síntese de ácidos graxos e produção de energia.
A vitamina B12 é uma complexa molécula de elevado peso molecular, normalmente portadora do elemento químico Cobalto em sua constituição (daí serem chamadas coletivamente de Cobalaminas).
http://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/summary/summary.cgi?cid=5479203
A vitamina B12 porém, é apenas uma de um grupo de 8 vitaminas do tipo B necessárias na alimentação. O agrupamento destas vitaminas do tipo B é chamado de Complexo B, a saber :
B1 (tiamina); B2 (riboflavina); B3 (niacina); B5 (ácido pantotênico); B6 (piridoxina); B7 (biotina); B9 (ácido fólico); e B12 (cobalamina).
Nota importante : Um frasco de Complexo B na farmácia com 90 pequenas drágeas custa aproximadamente 15 reais, ou seja, 6 centavos por drágea. Bastaria uma drágea a cada dois dias para suprir o organismo com um excesso de vitamina B12 necessário às funções vitais.
O uso do termo "vitamina B12" corresponde genericamente a uma das quatro variantes de vitamina B12 normalmente encontradas :
- cianocobalamina, hidroxocobalamina, 5-desoxiadenosilcobalamina (ou adenosilcobalamina) e metilcobalamina.
(onde na verdade a adenosilcobalamina é cofator (*) da enzima Metilmalonil Coenzima A Mutase (MUT) e a metilcobalamina é cofator da enzima 5-Metiltetrahidrofolato-Homocísteina Metiltransferase (MTR).
(*) cofator é uma molécula não-proteica que liga-se a uma enzima e é necessária para a ação biológica desta.
Atenção !!!
As moléculas de vitamina B12 não podem ser sintetizadas por animais e vegetais, sendo sintetizadas apenas por bactérias !!!
Espécies dos gêneros bacterianos a seguir são conhecidas como organimos capazes de sintetizar a vitamina B12 :
Aerobacter, Agrobacterium, Alcaligenes, Azotobacter, Bacillus, Clostridium, Corynebacterium, Flavobacterium, Micromonospora, Mycobacterium, Nocardia, Propionibacterium, Protaminobacter, Proteus, Pseudomonas, Rhizobium, Salmonella, Serratia. Streptomyces, Streptococcus e Xanthomonas spp.
As bactérias mais frequentemente usadas neste processo são a Pseudomonas dentrificans e a Propionibacterium shermanii.
A produção de vitamina B12 em escala industrial portanto ocorre através da fermentação de bactérias selecionadas e cultivadas em condições específicas.
(*) fermentação : processo de obtenção de energia através da oxidação de compostos orgânicos na ausência de oxigênio.
Assim, uma vez sintetizada a vitamina B12 por bactérias, o caldo bacteriano é coletado, processado e dele a vitamina B12 é purificada.
Como produto desse sistema de purificação temos a cianocobalamina. A cianocobalamina (uma forma de vitamina B12) na verdade não existe dessa forma na natureza. O grupamento ciano associado à cobalamina é um artifício industrial da purificação, uma vez que moléculas do tipo B12 ligam-se muito facilmente ao grupamento ciano.
Como esta forma da vitamina B12 (a cianocobalamina) é muito estável e insensível a oxidação (além de apresentar coloração vermelha característica e fácil cristalização), a mesma é amplamente usada como aditivo nutricional na indústria alimentícia.
É ela, a cianocobalamina (um produto bacteriano industrializado) que é a principal forma de vitamina B12 usada em alimentos na forma de suplemento nutricional.
- Mais detalhes sobre a Vitamina B12 :
A vitamina B12 tem como função recuperar os níveis de Ácido Fólico da célula aos seus níveis normais. Quando os níveis de Ácido Fólico encontram-se normais no organismo, todas as patologias relacionadas a níveis deficitários de vitamina B12 mostram-se inexistentes (é uma exceção a essa realidade, enfermidades intimamente ligadas à problemas nas enzimas MUT e MTR, onde a vitamina B12 é cofator essencial).
Muitas das funções que a vitamina B12 desempenha no organismo podem ser substituídas (ainda que não todas) pela presença de Ácido Fólico em quantidades suficientes. O ácido fólico é outro tipo de vitamina do complexo B (B9).
O ácido fólico (ou folato) é uma molécula muito usada na síntese de timina (T), um nucleotídeo essencial (juntamente aos nucleotídeos A, C, e G) na estrutura e informação contida no DNA.
Desde a década de 90, o Ácido Fólico tem sido sistematicamente implementado como aditivo nutricional à diversos alimentos, como por exemplo, farinhas. Portanto, a deficiência mundial para o Ácido Fólico tem se tornado relativamente mais rara.
Ainda assim, deficiências para vitamina B12 podem causar neuropatias e anemias sérias, mesmo se níveis de Ácido Fólico estiverem presentes nas quantidades sugeridas.
- Como o ser humano absorve a vitamina B12 ?
(1) A vitamina B12 ingressa no trato digestivo associada a glicoproteínas da saliva conhecidas como R-binders (haptocorrinas).
(2) Uma vez que as glicoproteínas são destruídas pela acidez do estômago, a vitamina B12 livre liga-se a um Fator Intrínseco (IF) estomacal o qual é produzido por células do próprio estômago (as chamadas células gástricas parietais).
(3) Essa associação da vitamina B12 com o fator intrínseco (IF), irá proteger a molécula do catabolismo bacteriano intestinal, local esse onde a vitamina será absorvida.
(4) O complexo IF/B12 é absorvido normalmente pela porção terminal do íleo no intestino delgado.
Agora atenção !!!
Indivíduos que apresentem enfermidades resultantes de deficiências de vitamina B12 não necessariamente praticam uma má alimentação! Estes indivíduos podem apresentar problemas em diversos outros pontos da etapa de processamento e absorção da vitamina B12 pelo intestino delgado.
Assim, antes de dizer que a dieta vegan (ou desprovida de carne e derivados animais) é a causadora de deficiência em B12, deve-se avaliar se os problemas estão relacionados ao suprimento de vitamina B12 na dieta ou se o problema está na má absorção de B12 e/ou processamento enzimático de B12 pelo organismo.
Saiba que a quantidade total de vitamina B12 armazenada pelo organismo oscila entre 2000-5000 microgramas (mcg) em adultos.
80% desse montante encontra-se no fígado.
Cerca de 0,1% dessa quantidade é perdida diariamente através das secreções gástricas. A dinâmica dos níveis de B12 no organismo está relacionada ao balanço de quanto de B12 é secretado e reabsorvido pelo organismo e o quanto é obtido pela dieta.
Atenção novamente !!!
Animais não produzem vitamina B12 !!!
A obtenção de vitamina B12 é direta ou indiretamente possível através de bactérias. Bactérias que produzem vitamina B12 normalmente vivem em regiões do aparelho digestivo do animal.
Assim, animais herbívoros (como o boi, p.ex, o qual é incapaz de produzir vitamina B12) a obtém de bactérias encontradas em seu rúmen ou através da fermentação de material vegetal no seu estômago.
Segue o link de uma tabela de alimentos que apresentam vitamina B12, elaborada pelo renomado Instituto Nacional de Saúde Americano (NIH) :
http://ods.od.nih.gov/factsheets/vitaminb12.asp#h2
Percebam que as três primeiras linhas da tabela (moluscos, fígado e cereais matinais) correspondem aos alimentos que apresentam respectivamente, 1400%, 780% e 100% das necessidades diárias (DV - Daily Value) para um adulto de vitamina B12, estabelecidas pelo FDA (Food and Drug Administration). A necessidade diária de vitamina B12 é de 6 microgramas (mcg).
Como descrito na tabela, a vitamina B12 é encontrada em alguns produtos de origem animal (em grandes quantidades no fígado e "frutos" do mar tais como moluscos, crustaceos e equinodermas). A Vitamina B12 também é encontrada em produtos lácteos e ovos. Ainda que ovos apresentem também vitamina B12 em níveis consideráveis, os ovos ao mesmo tempo apresentam um fator molecular que bloqueia sua absorção pelo intestino (referência : Doscherholmen A et al. (1975). Proc Soc Exp Biol Med, Sep;149(4):987-90).
Agora atenção a mais um detalhe :
A vitamina B12 é encontrada em grandes quantidades no fígado e frutos do mar !
A dieta carnívora moderna nitidamente não contempla ao fígado ou frutos do mar a posição de principal alimento nas refeições diárias de 90% da população moderna!!!
- E com relação a produção de vitamina B12 pelos vegetais ?
Plantas são capazes de fornecer vitamina B12 se as mesmas estiverem associadas às bactérias do solo que produzem B12 (encontradas normalmente em suas raízes). Ironicamente, o hábito de lavar intensamente os vegetais para consumo faz com que os índices de bactérias produtoras de B12 presentes em vegetais seja mínimo.
Mesmo assim, no mercado encontram-se diversos produtos alimentícios enriquecidos com vitamina B12 (cianocobalamina), tais como produtos à base soja, cereais matinais, barras de cereais, leites vegetais, refrigerantes e outros.
A culinária vegana tem por hábito obter quantidades mais que suficientes de vitamina B12 para a alimentação através da fermentação de grãos de soja, e a consequente produção de uma pasta chamada de Tempeh.- Considerações Finais :
Como é possível notar, bactérias produzem vitamina B12.
Estas encontram-se normalmente habitando regiões do sistema digestório de animais, tais como os ruminantes (os quais alimentam-se exclusivamente de vegetais).
A vitamina B12 produzida por essas bactérias acaba sendo transferida a tecidos do ruminante, notoriamente armazenadas em grande quantidade em seus fígados.
É amplamente dominada a técnica de produzir vitamina B12 em escala industrial (através da fermentação de bactérias específicas produtoras de cobalamina).
A suplementação de vitamina B12 (na forma de cianocobalamina) e/ou Ácido Fólico (B9) em alimentos indrustrializados é comum.
Como demonstrado, o custo da vitamina B12 é baixo (6 centavos de real por drágea). Cada drágea vem com quantidade diária em excesso para vitamina B12.
No que diz respeito ao consumo de carne e aquisição de vitamina B12 através da mesma, somente faria sentido defender a carnivoria caso o tipo de carne consumido fosse voltado essencialmente a peças de fígado ou frutos do mar (o que não é o caso). Se cereais matinais fornecem 100% da necessidade diária de vitamina B12, o consumo de carne perde significado com relação a esse quesito.
Assim, colocando-se na balança da Ética e da decência o motivo pelo qual submetemos animais não-humanos a uma indústria de sofrimento e desrespeito (sendo o motivo este em teoria a obtenção de vitamina B12 por meio de seus cadáveres) e os reais custos e necessidades da obtenção de vitamina B12 por outros meios (fermentação industrial de bactérias produtoras de vitamina B12), não há qualquer argumento lógico, ético ou moral que justifique a manutenção e estímulo à indústria do abate e humilhação animal.
Aquele que crítica a conduta vegan apoiando-se no discurso da vitamina B12, ou não sabe o que diz, ou esconde-se atrás da hipocrisia para defender um capricho gustativo e egoísta em detrimento do bem-estar dos animais.
sábado, 24 de maio de 2008
Uso de Animais na Ciência - 7
Não se contesta que preceitos éticos são complexos e relativos. Daí resultar difícil enquadrar a Ética como um ramo da ciência (um campo do conhecimento que busca a certeza). Ainda assim, o homem da ciência consegue discernir o fato da idéia, o subjetivo do objetivo, o preto do branco. Resulta simples para uma pessoa razoavelmente sensível, perceber que é interesse de todo ser vivo afastar-se de fatores lesivos ou desconfortáveis, e aproximar-se do maior ganho sensorial possível. Todo ser vivo busca o "prazer" e repudia a "dor". Essa é uma característica notoriamente observada no mundo vivo. Proporcionar o desconforto a terceiros é situação singular, normalmente apenas "justificada" mediante ameça a sobrevivência real e imediata. O uso de animais como objetos de manipulação e inferência científica a respeito da biologia humana mostra-se absurdamente ilógica, ultrajante e pouco eficaz. Por mais que a Ética seja um princípio relativo, não é possível ignorar o panorama atual vivido, resultado da exploração humana do reino não-humano. Há pouco tempo atrás negros, mulheres e judeus eram considerados entidades sub-humanas e portanto plenamente sujeitas a qualquer tipo de violência. Já não se defende isso. O homem constrange-se em rever semelhante comportamento ilógico.
Alcançar equilíbrio entre ciência e ética talvez seja uma realidade difícil, mas ainda assim resulta mais difícil aceitar a tremenda incoerência e paradoxo humano, que preocupa-se em defender uma postura ilógica e hipocritamente criticá-la ao mesmo tempo quando esta mostra-se de alguma forma inconveniente aos seus interesses. O capricho humano não justifica metade de seu modus operandi nem a realidade atual vivida. Mesmo assim, ele (o capricho humano) é defendido e cultivado a todo momento. Desde a infância...
Uma pequena revisão da História Humana mostra que os grandes saltos na Medicina foram aqueles que apoiaram-se na demonstração de fatos científicos experimentados no H.sapiens. Por mais que se usem modelos para inferir algo a respeito do homem, certezas serão apenas alcançadas quando o Homem for o objeto da experimentação. Em medicina e ciência trabalha-se com certezas, e não com suposições.
A utilização dos animais nas investigações científicas deve ser vista sob três aspectos: científico, ético e legal. Se o pesquisador mantiver a sua atividade equilibrada nesse tripé, terá maiores chances de progredir sem comprometer o seu trabalho e o seu nome.
Sob meu ponto de vista, o nome de alguém está já comprometido quando este reluta em evitar o sofrimento alheio. Sofrimento por sofrimento, então que esse sofrimento valha a pena no menor número de etapas possíveis. Se queremos entender a biologia humana e salvar vidas no menor espaço de tempo, experimentos em humanos satisfazem os preceitos acima. Experimentação animal é perda de tempo, dinheiro e muito mais vidas humanas Talvez a sociedade não aprove essa conduta por enxergar-se como potencial vítima da mesma estratégia. Mas então que ela não feche os olhos diante da mesma conduta e seus ultrajes quando a mesma for aplicada a outros que não eles mesmos, isto é, animais não-humanos. A hipocrisia não é uma qualidade.
Uso de Animais na Ciência - 6
Portanto, que fique claro o "penoso processo de SUPRESSÃO emocional" desejado. Um efeito em primeira análise totalmente artificial.
Se a pressão psicológica for insustentável, o pesquisador deverá afastar-se da investigação, porém divulgando as suas idéias, para que outras pessoas tenham a oportunidade de desenvolver o trabalho que possa resultar em uma contribuição científica importante. Um fato completamente imoral e inaceitável é o pesquisador, incapaz de realizar o trabalho, em decorrência de obstáculos individuais, obrigar seus subalternos a realizá-lo.
"Um fato COMPLETAMENTE IMORAL e INACEITÁVEL é o pesquisador, incapaz de realizar o trabalho, em decorrência de obstáculos individuais, obrigar seus subalternos a realizá-lo." O que acontece o tempo todo. É isso que acontece diariamente quando alguém que consome carne ou derivados animais em suas refeições PAGA para que uma empresa ou indivíduo execute e processe o animal que ele não tem coragem de executar. O cidadão comum não que ter real noção do que consome (por pura conveniência) uma vez que sabe o desconforto que isso envolve. O auto-engano.
A maior vantagem das pressões sociais sobre os pesquisadores foi a melhoria da alimentação e das condições de alojamento dos animais. Com vista também à proteção das pessoas envolvidas na pesquisa, tornou-se obrigatório vacinar os animais, tratá-los de eventuais doenças e assegurar a sua procedência. Em contrapartida, essas exigências oneraram substancialmente as investigações. Se for ponderado que a maioria dos recursos investidos em pesquisa são parcos e que os pesquisadores raramente são abastados, concebe-se o obstáculo que essa conjuntura traz à realização do trabalho. Nos Estados Unidos, por exemplo, cada cão custa, no mínimo, 30 dólares. Considerando o tipo de pesquisa realizada, sua duração, a alimentação e o ambiente a ser oferecido, o orçamento com cada animal pode alcançar várias centenas de dólares. Esse valor não inclui os demais gastos com a investigação. Em nosso país, ainda não se atingiu esse exagero, em contrapartida, o dinheiro investido aqui na pesquisa representa uma fração insignificante, comparando-se com a maioria dos outros países.
Mais uma vez fica evidente a consideração de animais como objetos e a importância de seus custos. É esse no final das contas um dos principais pontos que governa o uso de animais de forma indiscriminada em nossa sociedade: custos, custos, custos. Depois temos o aspecto "eles não podem se opor a isso". A "melhoria" das condições de alimentação, alojamento e tratamento dos animais é interessante à confiabilidade do experimento, e não, aos interesses do animal. O principal e único interesse dele nesse instante é NÃO PARTICIPAR DE EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA.
Mesmo o objetivo do trabalho sendo importante, o pesquisador deve ser capaz de realizá-lo com o mínimo de animais necessário à obtenção das respostas às indagações que originaram a pesquisa. Como a vigilância à investigação científica no Brasil ainda é muito precária, uma forma de se controlar o abuso contra os animais é através das instituições de fomento às pesquisas e das revistas especializadas em divulgá-las. Em ambos os setores existem profissionais competentes e com profundo conhecimento científico que limitam o fornecimento de recursos ou impedem as publicações dos trabalhos de pesquisadores afoitos que julgam, de forma errada, que a investigação científica se mede pelo volume de sua amostragem.
Diante de minha experiência em Ciência, tenho sérias dúvidas de que esse controle seja real e concreto em qualquer parte do mundo. Os interesses que prevalecem são todos, mas em último lugar sempre o interesse dos animais usados como objetos.
Uso de Animais na Ciência - 5
Experimentos que usam animais como ferramenta têm normalmente por objetivo avaliar (1) resposta fisiológica (tolerância/letalidade) do modelo animal a um composto ou procedimento, (2) eficácia ou otimização de procedimento invasivo em modelo animal, (3) verificação de alteração comportamental ou fisiológica mediante algum estresse químico, físico ou biológico, entre muitos outros. Não há qualquer experimento que utilize-se de animal como ferramenta, que não o submeta a humilhação, injúria ou violação de princípios básicos de dignidade. Animais de laboratório são TODOS descartáveis a curto, médio ou longo prazo.
Antes de se escolher o animal, é preciso buscar na literatura subsídios para a opção mais adequada. Havendo mais de uma alternativa, utilizar os animais menos desenvolvidos filogeneticamente e que puderem ser obtidos em número suficiente, com maior facilidade. Esses princípios são responsáveis por serem os roedores, em especial os ratos, os animais empregados rotineiramente na maioria dos trabalhos científicos. Nos Estados Unidos, 88 % das práticas são realizadas com ratos, camundongos, cobaias e coelhos, enquanto cães são utilizados em 0,35 %, porcos, em 0,28 %, gatos, em 0,14 % e macacos, em 0,03 % das pesquisas e/ou aulas. Outros animais fazem parte de pesquisas especiais ou estão no domínio da Veterinária. Na Inglaterra, a proporção aproximada do uso de animais em pesquisa e ensino é: camundongos (65 %), ratos (22 %), coelhos (6 %), cobaias (4 %), cães (2 %), gatos (1 %) e macacos (< 0,1 %). Outros animais não foram registrados.
"Havendo mais de uma alternativa, utilizar os animais menos desenvolvidos filogeneticamente e que puderem ser obtidos em número suficiente, com maior facilidade." Esse é o indicativo básico do que usa-se como motivação na escolha de animais como ferramentas de experimentação: custo, quantidade, tempo dispendido, praticidade. Em nenhum momento consideram-se quaisquer aspectos éticos ou sensoriais, assim como não se considera que organismos filogeneticamente menos desenvolvidos fornecem na verdade indícios falsos ou imprecisos de comportamentos que não serão observados em organismos filogeneticamente mais desenvolvidos (como é o caso do uso de camundongos para inferir respostas no H.sapiens). Perceba o baixo percentual do uso de primatas para experimentação científica (ainda que o número de primatas sacrificados seja imenso na realidade). A razão é simples : 9 em 10 pesquisadores desejariam fazer experimentação em primatas (por serem o "modelo" animal mais parecido ao ser humano - obs: o único modelo adequado para estudar com precisão o ser humano é o ser humano propriamente dito). As verdadeiras razões pelo não uso de primatas como desejado são duas : (1) os elevados custos de manutenção e infraestrutura de biotérios de primatas, (2) a dificuldade de alguns centros ou técnicos de desvincular semelhanças entre primatas e seu alvo de estudo (o homem). Fica assim evidente o desrespeito e o paradoxo : se por um lado animais são tratados como objetos (desprovidos de sentimentos ou desejos) em que unicamente consideram-se aspectos orçamentários de sua manutenção, por outro lado alguns animais (primatas) são comparados à seres humanos despertando claramente o desconforto de submeter criaturas semelhantes a experimentação científica sádica e desrespeitosa. Fica a mensagem : o uso de animais de qualquer categoria é anti-ético e naturalmente desperta sensações que deliberadamente queremos ignorar por conveniência (maiores quanto maior for a semelhança à nossa espécie). As justificativas para uso de animais em laboratório, apoia-se na mesma lógica do uso de humanos com os mesmos fins.
O pesquisador deve conhecer bem as particularidades dos animais com os quais trabalha. Dados biológicos, como o tempo de vida, fases do desenvolvimento e características reprodutivas são parâmetros fundamentais a serem controlados. As necessidades nutricionais e o alojamento mais adequado, bem como o comportamento do animal frente aos agentes ambientais são outras particularidades prioritárias a serem dominadas pelo pesquisador, para evitar desconforto ao animal ou interferir no trabalho a ser realizado.
Traduzindo : por "evitar desconforto animal ou interferir no trabalho a ser realizado", o autor quer dizer que o que realmente importa aqui é o trabalho realizado. A preocupação com o desconforto animal não é levantada por razões éticas, mas sim porque o desconforto animal representa mais uma variante ambiental a considerar na análise final dos dados. E qualquer profissional de ciência (ou não) percebe que quanto menor o número de variáveis ambientais incidindo sobre o experimento, maior a confiança na análise do mesmo.
Os animais apresentam peculiaridades fisiológicas características a cada espécie. Tomando como exemplo a temperatura corpórea, na maioria dos mamíferos ela se encontra entre 38 e 39oC. Já a freqüência cardíaca varia desde 70 batimentos por minuto, no porco, e 80, no cão, até acima de 400, no rato e camundongo, passando pelo gato, com 120, e coelho, com 200 batimentos por minuto. O abdome dos mamíferos é, no geral, parecido com o humano, mas o fígado apresenta morfologia lobular diferente e o baço é proporcionalmente maior e mais móvel do que o humano, na maioria das espécies. No rato, o estômago é dividido em duas partes (pré-estômago e estômago), o apêndice cecal é muito maior do que o ceco e a vesícula biliar é quase inexistente.
Diante de tantas variações morfológicas, podem-se esperar que as diferenças fisiológicas sejam ainda mais complexas entre os animais e em relação ao homem. Contudo, a maioria das pesquisas realizadas com os animais adequados resultam em informações próximas das que podem ser esperadas no homem.
Me impressiona a incoerência lógica e científica entre profissionais que lidam com Ciência. "Informações próximas das que podem ser esperadas no homem" não tem o mesmo significado que "Informações idênticas das que são observadas no homem". O autor destaca claramente que animais não-humanos são exatamente isso: animais não-humanos. Portanto, animais não-humanos não devem ser considerados como "modelos" para inferência científica em humanos.
Existem subsídios na literatura para a escolha do melhor modelo animal. Dessa forma, o camundongo se presta mais às práticas de choque, sepse, queimaduras, obesidade, megacólon e câncer. Como já foi mencionado, o rato é o animal mais utilizado nas práticas científicas, porém ele é mais apropriado para trabalhos envolvendo choque, sepse, obesidade, peritonite, câncer, úlceras gástricas, operações intestinais, estudos do sistema mononuclear fagocitário, baço, cicatrização e transplantes de órgãos. O coelho é empregado para estudos sobre a pele, pesquisas imunológicas, choque, inflamação, colites ("Crohn"), operações vasculares e transplantes. O cão é outro animal muito útil à pesquisa e ao ensino de técnica operatória; as investigações mais comuns nesse animal são choque, má absorção, megas, colites, pancreatites, operações hepáticas e esplênicas, além de transplantes. Os outros animais não fazem parte da rotina de pesquisa. Assim, os porcos são estudados em trabalhos com fígado, úlcera péptica e transplantes; os cavalos em hematologia; e os macacos, em investigações comportamentais e nas pesquisas mais sofisticadas, com vista a aplicações subsequentes no homem. Os sapos e pombos são mais úteis em aulas práticas básicas.
Creio que o singelo parágrafo acima resume muito do absurdo que venho ilustrando.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Uso de Animais na Ciência - 4
PONDERAÇÕES SOBRE O ENSINO
Além de ser um elemento fundamental e indispensável ao progresso da Medicina, a vivissecção é também de extrema utilidade na educação médica. O ensino nos cursos de Biologia, Farmácia e Veterinária também são inconcebíveis sem as aulas práticas em animais.
"Inconcebível". Por definição é aquilo que não é possível conceber, imaginar e/ou construir. Exploremos esse assunto :
Ao estudar o corpo humano frequentamos aulas de anatomia, exploramos literatura como Atlas Anatômicos e Histológicos e manipulamos cadavéres inteiros (ou seus fragmentos) conservados em formol (tais peças pertencem a indigentes ou cidadãos sem identificação - daí a regular cerimônia ao Cadáver Desconhecido; algumas poucas vezes alguém (ou sua família) doa o próprio corpo para fins de estudo).
Essencialmente entretanto, boa parte do aprendizado de um médico nos primeiros 3 anos de seu curso, baseia-se no estudo do organismo humano na teoria e na intensa prática de manipulação cadavérica.
Passados meses de estudo das peças sem vida, alunos de medicina ou afins migram para estudos de peças vivas (pertencentes a cães e porcos em sua maioria). A idéia reside na manipulação invasiva de animais não-humanos que apresentem disposição e/ou anatomia de orgãos e tecidos "parecida" à encontrada em humanos. Os animais "modelos" são abertos sobre mesas cirúrgicas (dopados e/ou anestesiados – dois procedimentos bem distintos) e os alunos são orientados a executar uma série de procedimentos clínicos ou cirúrgicos no mesmo. O ensino visa transmitir ao aluno protocolos e técnicas de manipulação de orgãos vivos e observar dinamicamente os efeitos positivos e negativos que determinados fármacos ou procedimentos causam aos mesmos.
Por exemplo, administrando-se uma solução de sal potássico nos sistema circulatório do animal "modelo", o aluno pode constatar/sentir os efeitos fibrilatórios sobre a musculatura cardíaca e como o organismo responde à essa substância. O mesmo procedimento visa também mostrar ao aluno, como a administração de determinados compostos farmacêuticos podem reverter o quadro fibrilatório e letal ao orgão em questão. Um outro procedimento pode consistir em uma modificação vascular ou tecidual através do corte e sutura das partes envolvidas. Terminada a aula, o animal é sacrificado.
Perceba entretanto que somente após muitos meses, muito estudo teórico, e muitas vivisecções animais, o aluno de medicina enfrenta seu verdadeiro alvo: um ser humano vivo e real. Esse momento é sempre acompanhado de "profissionais" que já adquiriram experiência prática na manipulação de humanos e onde o mesmo, a princípio, responde pelo erro e imperícia clínica e cirúrgica de seu pupilo (caso execute alguma).
Faço questão de frisar que o aluno (ou futuro médico) enfrentará o verdadeiro alvo dele (um outro ser humano) numa situação artificial. Ainda que sua "vítima" seja um paciente real e com problemas reais, o aluno irá encontrar-se assessorado por um outro profissional que deseja a todo custo não permitir que um procedimento equivocado seja realizado (o futuro médico não enfrentará isso na sua prática profissional indepedente). Caso um procedimento equivocado seja concretizado, três situações podem ocorrer no mundo real: (1) o aluno é responsabilizado, (2) o profissional-tutor é responsabilizado, ou (3) o erro não é divulgado. Como diz o ditado "O erro médico a terra cobre".Para o paciente que recebe a prescrição clínica ou intervenção cirúrgica, todos os profissionais à sua volta são teoricamente pessoas muito experientes na manipulação de partes vivas humanas. Mas perceba que o aluno treinou intensivamente em viviseccções de cães e porcos ! Em algum momento ele irá realizar o seu procedimento sobre um humano pela primeira vez. E essa primeira vez será tensa, perigosa e desconhecida, simplesmente por tratar-se de um ser humano real.
(Atente para o detalhe curioso de que o paciente, na maior parte das vezes, não faz a menor idéia de quem irá manipular o bisturi ou administrar o fármaco em seu organismo. Alunos de medicina precisam aprender. Se os pacientes fossem questionados sobre sua aceitação em servir de objeto de manipulação didática para aprendizes de medicina, é certo que o paciente sentiria-se inseguro e relutante. Afinal, pacientes não gostariam de serem tratados como cobaias de acadêmicos de medicina. Mas o são o tempo todo).
Muito se argumenta de que a segurança prática que alunos adquirem na manipulação humana jamais seria alcançada se o mesmo aluno não tivesse feito diversas vivisecções (ou experimentaçãoes ) animais e pudesse ver o que pode e o que não pode dar errado num dado procedimento. Resumindo : somente através dos erros e acertos praticados na vivisecção (ou experimentação) de animais não-humanos, o aluno executará com precisão um dado procedimento em humanos.
Em teoria...
Lidemos agora com alguns fatos.
Um organismo vivo é algo muito complexo.
Qualquer profissional de saúde ou estudioso das ciências naturais sabe disso.
Organismos vivos são uma intrincada associação de moléculas, células, tecidos, orgãos, sistemas, sujeitos a uma dinâmica multi-fatorial do ambiente sem precedentes.
Ainda que saibamos muito sobre organismos vivos, sabemos com certeza que sabemos muito pouco sobre o assunto.
Quando sabemos pouco sobre algo, nos dedicamos a experimentação controlada do nosso objeto de estudo. Aprendemos que o melhor modelo para praticar experimentação sobre aquilo que nos interessa, é o objeto de estudo propriamente dito (se desejo aprender a andar de moto, melhor se pratico numa moto - se desejo aprender a subir uma montanha X, melhor se pratico na montanha X).
Algumas vezes entretanto, por alguma razão, o objeto de estudo pode encontrar-se indisponível. Nessa situação, usamos modelos para estimar o comportamento/funcionamento de nosso experimento com aquilo que nos interessa. Quanto mais parecido o modelo, mais precisa será a experimentação.
A relação de semelhança entre modelo e objeto de estudo é o que distinguirá a estimativa da previsão.
E é isso o que acontece no uso de animais para a compreensão de mecanismos biológicos humanos ou para a prática de procedimentos manuais. O animal "modelo" não é modelo para o sistema humano. Humanos são modelos para o sistema humano. Defende-se que porcos tem orgãos do tamanho dos encontrados em humanos e cães são boas ferramentas para manipulação cirúrgica. Se a Ética contesta o uso de humanos como objeto de estudo direto, devemos nos perguntar porque o mesmo princípio não é aplicado aos animais não-humanos. Os argumentos sempre levantados diante dessa pergunta são :
(1) animais não-humanos não sentem dor/sofrimento;
(2) animais não-humanos não têm consciência de si mesmos como indivíduos;
(3) a vida de uma animal não-humano não equivale a de um animal humano;
(4) o homem é o único organismo que pratica Ciência;
(5) o homem pode fazê-lo e portanto o faz;
(6) animais não-humanos são inferiores (intelectualmente e moralmente) aos humanos;
Qualquer análise sincera desses tópicos esclarece a tremenda e brutal parcialidade do uso de animais não-humanos em experimentação científica e ensino biológico (uma vez que os argumentos acima são indefensáveis).
Não resulta inconcebível transmitir conhecimento evitando submeter animais a dor/sofrimento/estresse. A tecnologia humana é bastante desenvolvida para permitir que alunos da área de saúde compreendam muito bem a matéria que estão estudando sem submeter "modelos" inadequados à manipulação inescrupulosa e anti-ética.
- Não necessitamos submeter pessoas a explosões para ensiná-las sobre o poder explosivo de uma substância.
- Não precisamos conduzir alcoolizados para entender as consequências da embriaguez na condução de veículos.
- Não precisamos submeter crianças ao assédio moral para deduzir que isso possa transtorná-las no futuro.
O desenvolvimento de simuladores artificiais é tão impreciso (ou menos) quanto o uso de "modelos" animais inadequados. Entretanto o primeiro não envolve a violação de princípios básicos de dignidade a um ser vivo. Um aluno de medicina que consiga apenas aprender a suturar um tecido, ou extrair um orgão, ou cortar uma perna usando um ser vivo como referência deve se perguntar se entende de fato o material no qual fará procedimento igual (ou seja, um ser humano). Resulta ainda mais constrangedor defender o contrário diante do fato de que nenhuma pessoa deseja submeter-se ao aprendizado do aluno nopapel de cobaia. Tal negação demonstra claramente o caráter agressivo, humilhante e indigno de ser cobaia de algo. Se ser cobaia é indigno para um homem, ainda continua o sendo para um organismo que sequer foi consultado a assumir tal posição.
Quando alguém dedica-se ao aprendizado de pilotar uma aeronave, o interessado entende que precisa dominar a teoria e o que se conhece dela. Sabe também que precisa conhecer a estrutura mecânica (anatômica) da aeronave que pretende pilotar. Sabe também que antes de lançar-se ao vôo efetivo, o uso de simuladores artificiais é aconselhado. Somente após horas de simulação de vôo, esse alguém se prestará a alçar vôo real acompanhado ou não de um tutor, transportando ou não uma tripulação e passageiros.
O futuro piloto não se prestará a pilotar uma aeronave "parecida" a que ele de fato deseja pilotar, por saber que isso não lhe confere expertise nem segurança na aeronave que ele de fato deseja pilotar!!!
Para tanto o futuro piloto preferirá escolher um simulador virtual a ter que se submeter a arriscar a própria vida em uma nave parecida ou na nave que deseja pilotar.
Ambas as situações (futuro médico e futuro piloto) necessitarão de aprendizado prévio e muita prática. Isso não se contesta. Ambos aprendizes serão orientados por pessoas mais experientes. Ambos os pupilos em algum momento sujeitarão terceiros (ignorantes em relação a serem feitos de cobaias) à teoria e pratica estudada. Qual é essencialmente então a diferença moral entre o aprendizado de medicina e o aprendizado de vôo ?
Enquanto o futuro piloto não teve a necessidade de dissecar aves diversas para entender seu mecanismo de vôo, o futuro médico/cirurgião submeteu organismos "modelos" à vivisecção para melhor entender o seu futuro instrumento de trabalho. Sendo que os "modelos" animais NÃO são seu instrumento de trabalho, isto é, não são seres humanos !
Resumindo : por mais que cães e porcos tenham sido usados em aulas práticas coletivas, o aluno jamais estará seguro de que pode desempenhar um determinado procedimento invasivo sem erro. A prática definitiva será obtida em seres humanos. Isto quer dizer que, para que um aluno possa desempenhar com frieza e segurança um dado procedimento em humanos, OU ele submeterá pacientes às suas primeiras experiências OU terá aprendido antes com modelos animais inadequados (cães, porcos, macacos, etc).
Até o final da década de oitenta, as disciplinas de Fisiologia, Farmacologia e Técnica Operatória eram amplamente ilustradas com experimentos em diferentes animais. Tais aulas não somente tornavam reais as explicações teóricas, muitas vezes difíceis de serem compreendidas, mas também ofereciam oportunidade de adestramento manual e despertavam nos alunos interesse pela pesquisa.
Interesse pela pesquisa não exige submeter os interessados a tortura de animais não-humanos. O interesse vêm da curiosidade regida pela ética.
Nos Estados Unidos, foram entrevistados médicos formados nos últimos 20 anos. Desses, 90 % tiveram experimentos em animais durante o curso de graduação, sendo que 91 % deles atribuíram grande valor a tais aulas e 93 % insistiram na necessidade de sua continuação no curso médico. Em relação à disciplina de Ética, ainda nos Estados Unidos, 93 % dos cursos de Medicina a oferecem a seus alunos. A sua duração varia entre dois e três meses, com uma a duas aulas semanais. Desses cursos, 71 % abordam a ética aplicada à pesquisa, com 74 % dos alunos assistindo a tais aulas. Não há dúvida quanto ao valor da disciplina de Ética para despertar nos alunos a consciência sobre o sofrimento do animal, apesar de sua necessidade para o ensino e pesquisa. Outro aspecto a ser abordado por essa disciplina é a importância do animal no contexto social, dando ênfase também aos aspectos legais.
"Naturalmente", o homem ciente do que é ser cobaia e a que elas são submetidas, acha primordial que animais sejam ainda utilizados na experimentação científica ou ensino biológico. O raciocínio é simples : "Contestar o uso de animais nesses procedimentos é abrir espaço para o uso de humanos como cobaias. E eu não gostaria de ser uma cobaia!"
Embora haja quase uma unanimidade entre os médicos sobre a importância dos cursos de Medicina com aulas práticas em animais, a forte influência da sociedade reduziu essas aulas consideravelmente. Assim, nos Estados Unidos, atualmente, 53% dos cursos de Fisiologia, 25 % dos de Farmacologia e 19 % dos de Cirurgia ainda "ousam" ensinar em animais vivos. Em contraposição, as escolas de Medicina têm aprendido cada vez mais a ministrar aulas com modelos alternativos, como filmes e outros recursos tecnológicos.
O próprio autor registra que as escolas de Medicina têm aprendido CADA VEZ MAIS e com o mesmo nível de qualidade, a ministrar aulas com modelos alternativos como filmes e outros recursos tecnológicos.
Essa situação é intolerável, pois, da mesma forma que não há como ensinar a escrever ou a dirigir automóvel através de filmes e simuladores, também é tosco o curso de Medicina sem os experimentos em animais vivos. Os eventuais abusos que possam ocorrer durante essas aulas práticas são facilmente controlados pelos professores com o auxílio da maioria dos alunos, que possuem um alto poder de crítica. Espera-se que não passe pela cabeça dos antiviviseccionistas a substituição dos animais por seres humanos, mostrando-se aspectos de fisiologia e farmacologia em doentes, ou ensinando-se técnica operatória durante procedimentos cirúrgicos em nossos semelhantes. É interessante lembrar a existência de alguns docentes universitários que, para negligenciar suas obrigações com os alunos, fazem discursos tendenciosos sobre as aulas práticas.
"Espera-se que não passe pela cabeça dos antiviviseccionistas a substituição dos animais por seres humanos, mostrando-se aspectos de fisiologia e farmacologia em doentes, ou ensinando-se técnica operatória durante procedimentos cirúrgicos em nossos semelhantes." Gostaria de ter acesso ao argumento LÓGICO que governa essa afirmação.Urge que as universidades de nosso país atuem com rigor junto aos órgãos legisladores e jurídicos para prevenir as distorções já existentes em outros países, prejudicando ainda mais o nosso ensino nas áreas biomédicas.
Traduzindo : Urge que o sistema não permita o uso de humanos como cobaias, uma vez que nunca se sabe se eu, ou um ente querido meu, pode ser submetido as essas práticas horrendas!
terça-feira, 20 de maio de 2008
Uso de Animais na Ciência - 3
"REPERCUSSÕES SOCIAIS
Característica | Carnívoros | Herbívoros | Onívoros | Humanos |
Músculos Faciais | Reduzidos de modo a permitir ampla abertura bucal | Bem desenvolvidos | Reduzidos | Bem desenvolvidos |
Tipo de Mandíbula/Maxila | Ângulo não expandido | Ângulo expandido | Ângulo não expandido | Ângulo expandido |
Posição de articulação da Mandíbula | No mesmo plano dos molares | Acima do plano dos molares | No mesmo plano dos molares | Acima do plano dos molares |
Movimento da dentição | Rente; movimento lateral mínimo | Deslocado; movimento livre no plano | Rente; movimento lateral mínimo | Deslocado; movimento livre no plano |
Principais músculos da mandíbula | Temporalis | Masseter e pterigóide | Temporalis | Masseter e pterigóide |
Abertura bucal x Tamanho da cabeça | Grande | Pequena | Grande | Pequena |
Dentes : Incisivos | Curtos e pontiagudos | Amplos, achatados e na forma de pás | Curtos e pontiagudos | Amplos, achatados e na forma de pás |
Dentes : Caninos | Longos, afiados e curvos | Cegos e curtos ou longos (para defesa) ou nenhum | Longos, afiados e curvos | Curtos e de ponta arredondada |
Dentes : Molares | Afiados, com forma de lâminas irregulares | Achatados com pontas complexas | Lâminas curtas e/ou achatadas | Achatadas com pontas nodulares |
Mastigação | Nenhuma; Alimento engolido em largas porções | Mastigação intensa necessária | Engole alimento inteiro e/ou esmagamento | Mastigação intensa necessária |
Saliva | Sem enzimas digestivas | Enzimas digestoras de carboidratos | Sem enzimas digestivas | Enzimas digestoras de carboidratos |
Tipo de estômago | Simples | Simple ou múltiplas câmaras | Simples | Simples |
Acidez estomacal | Menor que ou igual a pH 1 com comida no estômago | pH 4 a 5 com comida no estômago | Menor que ou igual a pH 1 com comida no estômago | pH 4 a 5 com comida no estômago |
Capacidade estomacal | 60% a 70% do volume total do trato digestivo | Menos que 30% do total do trato digestivo | 60% a 70% do volume total do trato digestivo | 21% a 27% do volume total do trato digestivo |
Comprimento do intestino delgado | 3 a 6 vezes o comprimento do corpo | 10 a mais do que 12 vezes o comprimento do corpo | 4 a 6 vezes o comprimento do corpo | 10 a 11 vezes o comprimento do corpo |
Cólon | Simples, curto e liso; não ocorre fermentação | Longo, complexo; pode ser compartimentalizado; fermentação pode ocorrer | Simples, curto e liso; não ocorre fermentação | Longo, compartimentalizado; fermentação pode ocorrer |
Fígado | Pode detoxificar vitamina A | Não pode detoxificar vitamina A | Pode detoxificar vitamina A | Não pode detoxificar vitamina A |
Rins | Urina muito concentrada | Urina moderadamente concentrada | Urina muito concentrada | Urina moderadamente concentrada |
Unhas | Garras afiadas | Unhas achatadas ou cascos arredondados | Garras afiadas | Unhas achatadas |
Termostase | Hiperventilação | Perspiração | Hiperventilação | Perspiração |
O consumo de carne perdura e é estimulado meramente em função de um capricho gustativo. As pessoas consomem carne porque gostam de seu gosto, textura e aroma. Só ! Esta é a verdadeira razão ! Elas simplesmente não desejam alterar um hábito adquirido desde a infância. Alegações de que o consumo de carne é imprescindível, natural e saudável são inverdades alimentadas pela indústria alimentícia e ignorância popular. Observa-se por exemplo, a ampla divulgação de que o ser humano precisa de "proteína animal" na forma de carne ou derivados destes para encontrar-se gozando de boa saúde.Uma grande bobagem! Do contrário, não haveriam tantos vegetarianos/veganos/frugívoros praticantes há décadas, saudáveis e em excelente forma física. Infelizmente, ainda são muito poucos os praticantes dessa conduta.
Ainda sobre a "proteína animal" :
Um fígado apresenta proteínas celulares distintas das proteínas celulares encontradas na soja. Portanto, a quantidade do aminoácido X encontrado no fígado talvez seja diferente da quantidade do aminoácido Y encontrado na soja. Mas de forma alguma, repito, não serão encontrados ambos aminoácidos X e Y tanto na soja como no fígado. O rendimento na extração dos aminoácidos que nos interessam, depende da combinação alimentar e modo de preparo destes. Fica evidente portanto que obter os teores de aminoácidos essenciais ou não-essenciais numa dieta, é questão de mero planejamento e protocolo culinário.
Aqui, entendam também que não é necessário um planejamento logístico complexo para obter os teores nutricionais indicados pelo profissional de saúde. Basta simplesmente ter uma alimentação variada em gênero e qualidade. Diz o ditado oriental que a boa refeição é a refeição colorida (alimentos vermelhos, verdes, amarelos, escuros, etc). Pigmentação diversificada é indicativo de variedade nutricional (vitaminas, carboidratos, lipídeos, etc). Não há um ser humano que se alimente diariamente e exclusivamente de carne. O primeiro que fizer isso por um tempo razoável, terá sérios e irreversíveis problemas renais. Não somos leões. A fisiologia e alimentação humana não se compara a de um felino, por exemplo. Mesmo o mais inveterado amante da carne, complementa sua alimentação com diversos outros alimentos. É amplamente sabido o impacto que o consumo de carne causa ao organismo humano, seja alterando níveis de colesterol, pressão sanguínea, capilaridade vascular, esforço renal, hepático e biliar, dificuldade digestiva, entre outros aspectos.
O autor reforça uma idéia errônea sobre a filosofia de alimentação vegetariana/vegana : "Há, entretanto, indivíduos que não se alimentam de carne de mamíferos, como uma forma de protesto contra o extermínio da vida. Por outro lado, essas pessoas comem aves, peixes e todos os vegetais, além de utilizarem objetos de madeira e de couro, todos resultantes da morte de seres vivos." A generalização é absurdamente equivocada ! São muitos os vegetarianos que não consomem qualquer tipo de carne (seja de peixes, aves, répteis, anfíbios) e são muitos os vegetarianos que não consomem produtos oriundos de animais (couros, ovos, leite, peles, fibras, etc). Mais do que pregar o extremismo de conduta, o que o vegetarianismo prega é a não-necessidade de consumo de carne ou derivados animais para qualquer fim.
Usemos um pouco de lógica cartesiana.
Mas afinal, em que aspectos exatamente somos diferentes destes, e em que aspectos somos iguais ?
Me parece que nossa espécie escolhe descaradamente semelhanças e diferenças segundo sua própria conveniência. Somos semelhantes na hora de usá-los como modelos experimentais, mas somos únicos e singulares na hora de usufruir de direitos à dignidade e ao respeito.
São paradoxos morais e científicos constrangedores para um ser auto-intitulado racional.
Se por um lado consideramos um desvio de dois graus centígrados na temperatura corpórea infantil algo sério, porque ignoramos que os animais usados como modelos experimentais já apresentam naturalmente uma diferença de dois graus centígrados em relação à nossa temperatura, diferença essa que seguramente reflete-se no comportamento molecular de suas células e constituintes ? Aliás, com que petulância (diante do pouco que conhecemos sobre o mecanismo molecular da vida), podemos afirmar que essa diferença (e tantas outras) não interferem na mecânica atomística inter e intracelular de um orgão/tecido/ser vivo ? Como extrapolar com segurança o efeito causado por uma composição farmacológica usada em modelos animais os quais sabidamente diferem fisiologicamente, genomicamente, anatomicamente, psicologicamente da espécie humana ? Não resulta uma perda preciosa de tempo e recursos experimentar drogas em animais quando o único modelo experimental que se presta a conclusões precisas do ponto de vista científico seja o próprio Homo sapiens ? Gritamos aos quatro ventos que animais não apresentam linguagem desenvolvida e os usamos para avaliar respostas laboratoriais através de inferências totalmente subjetivas. Não faz mais sentido usarmos organismos semelhantes biologicamente que ainda por cima possam se comunicar conosco de forma precisa, indicando os verdadeiros rumos de uma pesquisa séria ?
A contestação clássica sustenta que usar humanos em experimentação científica é contrário à Ética e Imoral. O argumento faria sentido se o próprio homem não contrariasse a própria ética e moralidade diariamente (seja em escala individual e coletiva) sujeitando milhões de pessoas à fome e privação de recursos básicos devido a utilização de um sistema econômico desigual e explorador. A Ética e Moralidade não é contestada quando a sociedade julga e condena milhares/milhões de pessoas por crimes que estes cometem contra o semelhante, enquanto pais de família ganham salários miseráveis para alimentar filhos que são criados segundo os valores mais conservadores. Ignora-se a Ética e Moral quando um condenado é mantido inútil e irrecuperável em uma penitenciária (ao invés de servir à Ciência e à Sociedade de modo recíproco), quando bilhões de animais são submetidos a elucubrações científicas das mais variadas apoiando-se em um sistema de extrapolações lógicas das mais furadas. O homem é muito ético e moral quando famílias ficam sem água para satisfazer interesses de empresários megalômanos apoiados pelo governo e lobbys empresariais. É ético e moral que uma minoria populacional detenha grande parte da riqueza moderna enquanto bilhões vivem em estado de sub-existência. Não contesta-se qualquer violação ética e moral em ferir e usar animais como objetos, invariavelmente condenando-lhes a morte (seja pela ciência, seja pela alimentação), enquanto homens que violaram todas as regras básicas da sociedade, refastelam-se por toda uma existência às expensas dos impostos cobrados do cidadão que trabalha arduamente de manhã à noite.
Não acho que o argumento de respeito a ética e moral deva ser exposto por qualquer um enquanto a mesma pessoa que o levanta, não faça uma auto-análise sincera das suas práticas e valores. Não se pode usar lógica para A e não para B, quando A = B.
São pontos simples na verdade, absurdamente óbvios, mas cosntantemente ignorados por pura conveniência humana :
- Se notamos claramente a diferença entre macacos e homens, como podemos justificar a experimentação com animais tais como camundongos, coelhos e cães ?
- Se notamos semelhanças entre macacos e homens, porque uns tem direitos e outros não ?
- Se assumimos que ambos tem sistemas biológicos parecidos (ou orgãos equivalentes), como podemos então achar que uns sentem dor e outro não ?
O uso de modelos animais na ciência apoia-se em um princípio errôneo: animais não são modelos biológicos para o Homo sapiens. Por modelo entendemos algo que representa idealmente um dado referencial. Animais apresentam peculiaridades biológicas únicas. Experimentação científica em animais é perda de (1) tempo, (2) dinheiro, (3) vidas humanas que esperam décadas para a pesquisa e desenvolvimento de fármacos que poderiam ser lançados no mercado em questão de poucos anos.
Desse raciocínio, a pergunta que emerge é simples : quem seriam as pessoas usadas na experimentação científica segundo este sistema ? Eu ? Minha mãe ? Meus amigos ?
Em primeiro lugar, devemos como sociedade refletir : Enquanto sociedade, elaboramos um código de condutas grupais que devem ser seguidas. Quem não as segue, está sujeita à Justiça e julgamento. Claramente então, o homem define o que é certo e errado para o grupo. Pergunta-se : quem nesta sociedade nós, enquanto grupo, consideramos como sendo elementos que violam princípios morais e éticos básicos e são obrigados a viver afastados da convivência grupal ?
Se não temos remorso em afastá-los da vida em grupo, porque teríamos em submetê-los a experimentação científica em prol da comunidade e da ciência ? Será porque a experimentação é um procedimento humilhante, doloroso e incerto de resultados positivos ?
Interessante...
Pois justamente esses pontos deveriam ser considerados ao usarmos os mesmos procedimentos em criaturas que sentem dor, medo, têm consciência de existência e buscam o mesmo que qualquer ser humano : propagar seus genes, sentir prazer e esquivar-se do desconforto e da dor.