sexta-feira, 13 de junho de 2008

Holocausto à sua mesa

Estive nos últimos dias revendo alguns documentários sobre o Holocausto.
 
O tema me remeteu automaticamente a uma campanha do PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) de 2003 chamada "Holocaust on your plate", onde foram apresentados 8 outdoors com imagens de vítimas de campos de concentração nazistas ao lado de imagens de animais em abatedouros.
 
A campanha causou tremendo desconforto e crítica na mídia internacional.
 
 
 
Camp prisoners in bunks on left, chickens in cages on right; "To animals, all people are Nazis"
 
  
Holocaust Cow
 
 
Holocaust Pig
 
 
Holocaust Pig2
 
Holocaust Chicken
 
 
 
 
 
 
Segundo muitos, a comparação entre vítimas do holocausto e animais para abate resultou ser controversa e muito criticada por grupos contrários ao anti-semitismo como a ADL (Anti-Defamation League) e o United Stated Holocaust Memorial Museum.
 
Enquanto alguns argumentam que o uso de imagens do Holocausto por ativistas de direitos animais era uma tática pertubadora, outros argumentam que o uso dessas imagens enfraquece o movimento contrário ao anti-semitismo.
 
À epoca, o chairman da ADL, Abraham Foxman, declarou que a exibição era "chocante, ofensiva e conduzia o chutzpah a novos patamares". "O esforço do PETA em comparar deliberadamente o assassinato sistemático de milhões de judeus ao tema de direitos animais é abominável". Stuart Bender, conselheiro legal da United Stades Holoucaust Memorial Museum, escreveu ao PETA pedindo-lhes que "parem e desistam desse reprovável mau uso de material relacionado ao Holocausto".
 
A campanha foi lançada acompanhada de dizeres (alguns de autores judeus reconhecidos) tais como :
 
"Durante os sete anos entre 1938 e 1945, 12 milhões de pessoas pereceram no Holocausto. O mesmo número de animais é executado a cada quatro horas para a ind´sutria alimentícia somente nos EUA. O Holocausto está na sua mesa".
 
"O mesmo princípio que tornou o Holocausto possível - o de que nós podemos fazer qualquer coisa que desejemos com aqueles que nós decidamos serem 'diferentes ou inferiores' - é o que nos permite cometer atrocidades contra animais todo dia".
 
"[Durante o Holocausto] pessoas eram espancadas, abusadas, e agrupadas para morrer. Hoje, 28 bilhões de animais por ano nos EUA são sujeitos a tratamento similar".
 
"Auschwitz começou a partir do momento em que alguém olhou para um abatedouro e pensou: são apenas animais" (filósofo judeu alemão Theodor Adorno).
 
"Como os judeus executados em campos de concentração, animais são aterrorizados quando eles são contidos em depósitos e manipulados para encomenda de abate. O couro do seu sofá e a sua bolsa de tiracolo são equivalentes morais aos abajures feitos de peles de pessoas mortas nos campos de concentração".
 
Em 2005, Ingrid Newkirk (presidente do PETA) publicou um comunicado de retratação referente ao tema :
 
"Hard as it may be to understand for those who were deeply upset by this campaign, I was bowled over by the negative reception by many in the Jewish community. It was both unintended and unexpected. The PETA staff who proposed that we do it were Jewish, and the patronage for the entire endeavor was Jewish. We were careful to use Jewish authors and scholars and quotes from Holocaust victims and survivors ... We believe that we humans can and should use our distinctive capacities to reduce suffering in the world ... Our mission is a profoundly human one at its heart, yet we know that we have caused pain. This was never our intention, and we are deeply sorry. We hope that you can understand that although we embarked on the "Holocaust on Your Plate" project with misconceptions about what its impact would be, we always try to act with integrity, with the goal of improving the lives of those who suffer. We hope those we upset will find it in their hearts to work toward the goal of a kinder world for all, regardless of species"
 
"Tão difícil quanto possa ser para alguns entender os que ficaram profundamente chateados com esta campanha, eu fiquei surpresa pela recepção negativa de muitos membros da própria comunidade judáica. O resultado foi inesperado e não intencional. O comitê do PETA que propôs a campanha era essencialmente judeu, e o patrocínio de toda esta campanha foi financiada por judeus. Fomos cuidadosos em usar autores e acadêmicos judeus assim como citações de vítimas e sobreviventes do Holocausto... Acreditamos que nós humanos possamos e devamos usar nossas capacidades de discernimento para reduzir o sofrimento no mundo... Sendo nossa missão profundamente humanística em sua essência, entendemos que nós causamos dor com esta empreitada. Esta nunca foi nossa intenção e nós sentimos profundamente por tudo isso. Esperamos que vocês possam entender que embora tenhamos embarcado no projeto "Holocausto na sua mesa" com más concepções sobre o impacto que este teria, sempre tentamos agir com integridade objetivando melhorar as vidas daqueles que sofrem. Esperamos que aqueles que tenhamos chateado, possam encontrar em seus corações forças em direção ao objetivo de um mundo mais gentil para todos, não importa a que espécie pertençam".
 
Desde então há um melindre muito grande de grupos ativistas pelos direitos animais em usar material "sensível à sociedade", evitando com isso diminuir o efeito de suas campanhas (já tão difíceis de emplacar).
 
Minhas impressões quanto ao tema :
 
O Holocausto foi um fato.
Milhões de pessoas morreram (não somente judeus: ciganos, prisioneiros politicos, crianças, homossexuais, etc) em detrimento de uma filosofia política em particular (a do Nacional Socialismo Alemão). De longe não é o maior genocídio da história (desnecessário citar a Revolução Russa e Chinesa Imperialista), mas seguramente é a que despertou maior comoção ocidental.
 
Os campos de concentração tinham por objetivo separar prisioneiros "úteis" dos "inúteis" (separar crianças, idosos, deficientes dos homens e mulheres aptos a trabalhos forçados) e sanear guetos de concentração da comunidade judáica.
 
Homens eram forçados a trabalhar na construção dos próprios campos de concentração e extermínio de prisioneiros (assim como na confecção de material bélico) e mulheres eram usadas como empregadas dos oficiais nazistas ou como classificadoras de pertences apreendidos (dinheiros, jóias, documentos, etc).
 
Isto é : Prisioneiros de campos de concentração eram usados de forma objetiva e direcionada. Eram considerados tão descartáveis como simples objetos.
 
Da mesma forma como negros e mulheres foram tratados há algumas décadas.
 
Da mesma forma como animais são tratados há séculos.
 
A campanha do PETA atingiu o nervo sensível da comunidade judáica que, evidentemente, reluta em alimentar lembranças negativas de entes queridos que sofreram nesse sistema. Isso é louvável. Ninguém gosta de relembrar como pessoas amadas foram tratadas de forma "desumana". Mesmo à mesa do jantar.
 
Curiosamente, assistindo documentários da BBC sobre sobreviventes do Holocausto, todos (absolutamente todos os entrevistados) declaram ter sido tratados como animais ou, segundo eles, "de forma que nem mesmo um animal deve ser tratado".
 
E mesmo assim, tenho sérias dúvidas que os mesmos sobreviventes tenham passado a ver com outros olhos o que comem diariamente. Duvido muito.
 
Ou seja : X pode; Y não pode (onde X = Y).
 
Até hoje não ficou clara e coerente a real razão da crítica à campanha do PETA.
 
Se por um lado há crítica quanto ao uso de uma triste memória para uma associação de idéias, não se pode negar que os fatos apresentados são plenamente reais e igualmente desencadeadores de sofrimento de terceiros em escala grandiosa.
 
Se por um lado o extermínio de judeus tinha cunho político e filosófico (sub-raça), condicionando-os a servir ou como força de trabalho/objeto, os mesmos eram exterminados quando seu fim não atendia aos objetivos dos mandantes da época.
 
Os críticos também temem que a associação entre o "parcial" vegetarianismo de Hitler e a causa dos Direitos Animais busque suavizar as atividades do regime nazista (o que claramente não foi a intenção).
 
Ainda que Hitler tenha sido "vegetariano", vincular uma conduta alimentar com uma filosofia de vida é de um amadorismo e conveniência gritante.
 
Alguns fatos :
 
Hitler tornou-se vegetariano essencialmente por problemas estomacais. Seu desconforto gástrico (aos 22 anos em Viena) foi amenizado pelo não-consumo de carne, uma vez que ele receava ser o desconforto um sinal inicial de câncer, moléstia essa que matou sua mãe Klara Hitler.
 
Hitler foi abstêmio, não-fumante e vegetarianopelo período de 1931-1945, infulenciado pelas teorias anti-semitas do compositor Richard Wagner que associava o futuro da Alemanha ao vegetarianismo. Hilter acreditava que sendo vegetariano podia ao mesmo tempo atenuar seus problemas de saúde assim como "regenerar" a raça humana.
 
Ainda que alegasse ser vegetariano, há registros de que Hitler consumia carne com regularidade na década de 30, em particular alguns pratos da culinária alemã que ele muito apreciava. Mais velho, tornou-se vegetariano mais rigoroso. No entanto acabava consumindo produtos animais em suas sopas (tutano de boi) sem conhecimento, uma vez que sua nutricionista Marlene von Exner desprezava sua dieta vegetariana.
 
Hitler também reprovava o uso de cosméticos que tivessem derivados animais em sua constituição.
 
Hitler gostava de dizer (para próprio deleite) durante jantares com convidados carnívoros o seguinte comentário : "Isso mostra quão covardes as pessoas são. Elas não podem encarar-se a si mesmas fazendo algumas coisas horríveis, mas elas desfrutam plenamente os benefícios dessa mesma atitude sem um pingo de dor na consciência".
 
Também observa-se em um registro de 25 de abril de 1943 do diário de Joseph Goebbels (The Goebbles´ Diaries) o seguinte comentário : "Uma boa parte de minha conversa com o Fuhrer foi devotada à causa vegetariana. Ele acredita mais do que nunca que o consumo de carne é nocivo à humanidade. É claro que ele sabe que durante a guerra nós não podemos 'chatear' completamente nosso organismo. Depois da guerra, entretanto, ele pretende lidar com esse problema também. Talvez ele esteja certo. Certamente os argumentos que ele sustenta em favor de seu ponto de vista são muito coerentes".
 
Assim, a crítica fez questão de associar de forma disparatada a associação "PETA - Hitler/Nazismo" enquanto a própria PETA fez questão de deixar claro que a associação veiculada em sua campanha girava ao redor da idéia "Judeus/Animais - Extermínio em massa".
 
Como é possível constatar, qualquer pesquisa sobre o tema não mostra qualquer argumentação digna de lógica.
 
O auto-engano e a manutenção de um costume (comer carne) são as desculpas para o benefício egóico do Homo sapiens.
 
Custe o que custar.
 
 
 

2 comentários:

Unknown disse...

Prezado Amigo,

Parabéns pelo seu trabalho. A união de todos os nossos é extremamente necessária para dar andamento à nossa luta contra esses assassinos cruéis que se denominam onívoros. Temos também que concentrar nossos esforços a fim de desmascarar esses pseudo defensores dos animais que se dizem vegetarianos mas que consomem leite/derivados e ovos. Eles utilizam animais escravos tanto quanto os onívoros, sendo que a indústria do leite e derivados ainda financia a produção de carne de VITELA. São esses elementos que mais produzem em mim a revolta pois esses hipócritas pregam algo que eles mesmos não conseguem (ou não querem) realizar, sujando dessa forma, o nome do vegetarianismo... Orgulho Vegan 100% é não usar nada proveniente do sofrimento animal! Ainda que um dia eu seja picado por uma cobra, me recusarei a tomar o soro! Isso sim é ser VEGANO.

josi disse...

onde tu andas?